As raízes do Movimento Político pela Unidade a partir do discurso de Chiara Lubich, proferido em sua fundação

Flávio Dal Pozzo*

O autor é presidente do Movimento Político pela Unidade no Brasil

Font: Cidade Nova | Maio 2023O amor dos amores

revista@cidadenova.org.br

 

MEMÓRIA Neste artigo, o autor resgata os argumentos fundamentais presentes no discurso da fundadora do Movimento dos Focolares realizado por ocasião da solenidade de fundação do MPPU

 

Nesse mês de maio estamos comemorando 27 anos do nascimento do Movimento Político pela Unidade (MPPU) no mundo e 22 anos da sua presença no Brasil.

Para melhor compreendermos e atuarmos seus objetivos, nada melhor do que fazermos uma releitura atualizada sobre alguns aspectos do discurso de Chiara Lubich no momento da sua fundação em Nápolis, Itália, em 2 de maio de 1996.

Um primeiro aspecto do seu discurso faz referência à relação que o Movimento dos Focolares, de cuja raiz nasce o MPpU, mantém com a política.

Chiara sublinha que o movimento é eclesial e, portanto, não deve tomar posições políticas, no sentido partidário. Uma atitude que permitiu aos membros do Movimento dos Focolares se relacionarem e atuarem no interior dos diferentes partidos, com suas diversas ideologias. Resultado disso é que os integrantes do Movimento dos Focolares em todo o mundo sustentam relações e ações político fraternas com todos os matizes ideológicos.

Na sequência do discurso, falando aos políticos de diversos partidos presentes, Chiara ressalta que, diante da diversidade de posições políticas, o aspecto fundamental que deve animar e movimentar a vida política de cada pessoa é a fraternidade, a exigência primeira de “sermos entre nós um só coração e uma só alma” (Chiara). Ou seja, a capacidade de vivermos relacionamentos fraternos, enraizados no compromisso comum de amor e compreensão, precede o nosso pertencer e atuar as riquezas presentes nesse ou naquele partido. Assumir o princípio fraterno e deixar que ele ilumine o nosso pensamento e a nossa ação política nos permite termos sempre diante de nós os valores universais da humanidade.

Atitude que nos leva a cuidar desses “valores como o da justiça, da paz, da liberdade, da vida, da ecologia, da unidade, etc, valores que não estão garantidos por qualquer partido” (Chiara).

Atitude essa que nos ajuda não apenas a não cairmos na armadilha de acharmos que somente esse ou aquele partido ou governo são portadores da fraternidade universal, e em condições de sustentarmos um horizonte mais amplo com os valores universais da humanidade, e igualmente  mantermos a necessária liberdade e capacidade de discernimento para apoiar ou criticar as falas e ações de qualquer governo.

O que nos une é a possibilidade de sustentarmos um horizonte fraterno comum (valores humanos e políticos universais), mais amplo que o horizonte do partido ao qual faço parte ou do governo com o qual simpatizo. Horizonte fraterno mais amplo que contém em si as riquezas da humanidade conquistados ao longo da história e que não devem ser confundidos ou capturados por esse ou aquele partido, pois são de toda a humanidade.

Para Chiara, a única possibilidade que temos para sustentarmos esse horizonte é sermos e atuarmos em nossas relações, especialmente na política, a arte de amar. Arte de amar que está na raiz e é característica fundamental de toda pessoa que aceita o desafio de ser e atuar a fraternidade na política.  Arte de amar que significa “praticar o diálogo, a ‘fazer-nos um’, a compreender o outro, a entrar no outro, a aceitar os seus pensamentos, a oferecer os nossos” (Chiara).

Após sublinhar que ser e atuar a arte de amar na política nos oferece a capacidade de uma experiência humana, ao mesmo tempo comunitária e fraterna, Chiara conclui: “os outros brigam, porque não sabem o que fazer” (Chiara).

E quem seriam os outros que brigam? Possivelmente aqueles que não conseguem viver a arte de amar na política e que, portanto, confundem seu horizonte fraterno mais amplo com determinado governo ou corrente partidária, reduzindo seu alcance, esvaziando seu significado.

Viver a fraternidade na política através da arte de amar não é tarefa simples, pois comporta um necessário e permanente exercício de compreensão sobre as complexidades inerentes ao espaço político. Exercício que deve ser pessoal e coletivo, cotidiano, para não vivermos  a política de forma superficial (simplificar o que é complexo), para não sermos manipulados, movimentados por outros, pelas redes sociais, e não pela fraternidade.

Além disso, viver a arte de amar (fraternidade) na política significa reconhecer que o espaço político é o espaço, sempre em construção, onde se busca organizar os conflitos inerentes a uma vida em sociedade, portanto, será sempre um espaço em permanente conflito e de disputa pelo poder. Viver a arte de amar dentro desse espaço, não elimina o conflito ou a disputa pelo poder, mas permite as condições para que sustentemos relacionamentos fraternos capazes de discernimento, compreensão mútua e respeito para a superação desses conflitos.

Chiara tinha plena confiança de que viver a arte de amar na política nos daria as condições para não brigarmos entre nós, pois nos ajudaria a compreender que as nossas diferenças deveriam ser motivo para  a construção de conexões fraternas, de pontes de diálogo e não de trincheiras. Confiança que Chiara construiu com a própria experiência, quando experimentou na pele a falência da política que levou à segunda guerra mundial, quando em plena guerra amou a todos, amigos e inimigos, comunistas e fascistas, sem distinção e com um único propósito: amar!

Ao concluir esse seu discurso fundacional do MPPU Chiara conclui: “o nosso Movimento não pode ser de nenhum partido, então será de todos!”.