Gracy Kelly Monteiro Dutra1*

Font: Cidade Nova |Junho 2023

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AS DISCUSSÕES sobre a temática ambiental se fazem presentes em diversos espaços sociais e educacionais, apontando para uma urgência em postular pressupostos para um enfrentamento real e efetivo diante deste cenário de fragilização socioecológica, tão próximo à vida dos seres vivos, mas pouco percebido com seriedade pelas pessoas. Uma série de estudos propaga alternativas para compreender e mudar o ambiente de crise planetária que se instala, que vem de muito tempo, com outras formas e objetivos, penetrando, ainda de forma frágil, na mentalidade dos sujeitos. A realidade atual, celeremente, afeta a nossa Casa Comum.

O processo evolutivo da relação do ser humano com a natureza tem se tornado virulento desde o século 19. Cada vez mais ele se distancia da natureza, não se reconhecendo como essencialmente imbricado nela. A ligação inerente que ambos possuem não é considerada, e essa indiferença o faz agir de forma destrutiva, criando a ilusão de superioridade e alheamento. A cada geração, a natureza vai se reduzindo, gerando distorções cognitivas e perceptivas na forma como se entende a identidade ambiental e no sentimento de pertencimento ao mundo circundante: terra, florestas, águas e animais. Ante essa situação, uma educação para um ambiente sadio e equilibrado deve ser demandada, para que as pessoas compreendem a necessidade de intervir contra os avanços inconsequentes ao ambiente. Logo, esse tipo de prática educativa deseja uma educação ambiental para a cidadania.

Os argumentos de uma educação ambiental para a cidadania ganham destaque por seus princípios e suas propostas, que esmeram uma consciência mais interligada aos outros seres, possibilitando uma perspectiva planetária, de interconexão. As práticas ambientais cidadãs se relacionam à sobrevivência tanto humana quanto dos outros seres vivos para que haja o equilíbrio das relações entre todos os seres planetários. Afinal, a Terra é nosso ambiente devida, visto que graves problemáticas socio-ecológicas são vivenciadas, mostrando a emergência de atitudes que revertam o quadro de instabilidade ambiental. Por essa razão, existe uma grande demanda de estudos que buscam esclarecer e apontar caminhos para sustentabilidade da vida, devendo-se ter o cuidado de compreender as ideologias que permeiam esse campo do saber para clarificar e assumir uma ótica global da problemática socioambiental.

A educação ambiental cidadã é uma perspectiva que permite aos indivíduos buscarem um mundo mais equitativo. Se houver a participação de todos nessa busca socioecológica, uma alternativa de vida poderá ser alcançada. Para tanto, são necessários uma da quebra de paradigmas e incentivos em massa para a participação de todos na promoção e na divulgação de práticas de cidadanias ambientais. Esta concepção abraça um alicerce político de salvaguardar os que se encontram no ambiente, por isso a urgência de políticas públicas que atuem nesse aspecto. A educação ambiental para a cidadania como política pública está sob a égide da interconexão dos seres, da vivência das pessoas em comunidade, fortalecida por outros tipos de valores e ações, surgindo uma nova forma de viver em coletividade.

Para entender a necessidade de uma perspectiva ecológica nas práticas humanas, convém mencionar o argumento de Edgar Morin, na obra A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento, ao dizer que cada sujeito precisa reconhecer-se como parte do grande ecossistema que é a Terra. É neste planeta que se vive; assim, cada um é dependente e responsável pelos seres ambientais que ele oferece. Essa leitura remete a uma reflexão sobre a existência do ser humano, situando-o como sujeito concreto e abstrato, integrante do mundo, da natureza, da Terra. Além disso, situa-o como construtor de cultura, permitindo ampliar a visão sobre si e sobre as ações que realiza. Assim, se o ser humano tem o entendimento que vive em um mundo complexo, acelerado e globalizado, precisa não somente compreender as nuances em que se imbricam as relações sociais humanas, mas também todas as vidas no planeta, no que diz respeito à sua importância e qualidades, visto que a Terra é extensão do corpo. Logo, cada um tem vínculo inseparável com o ambiente, por isso é indispensável reconhecer esta relação para que possa praticar a cidadania.

Perceber-se conectado à natureza é mostrar que a educação ambiental cidadã vem para modificar mentes aprisionadas, aflorando a sensibilidade por meio do reconhecimento do ser humano como membro da Terra. A sensibilidade de sentir-se como parte da natureza, compreendendo como seu modo de vida pode contribuir decisivamente para saúde do planeta, não com a ameaça da destruição. Ao ser humano é exigida uma sensibilidade de contemplar a bela natureza, de sentir a brisa, de saber olhar a beleza do verde, mesmo que pequeno nos grandes centros urbanos, de compreender a realidade e assumir o compromisso do cuidado e da solidariedade com aqueles que sofrem.

*A autora é doutoranda em Ciências Humanas (UFSC). Mestra em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade da Amazônia (UFAM). Docente da Universidade do Estado do Amazonas, Campus Parintins.